Desafios e soluções para a Gestão Integrada de Riscos e Capital
Nelson Fonseca, Consultor de Pré-Vendas, SAS Brasil
Em agosto de 2017, a resolução 4557 formalizou o conceito de gestão integrada de riscos e capital, tornando obrigatório diversos aspectos para as instituições S1, segmento definido pelo Banco Central como instituições financeiras que tenham exposição igual ou superior a 10% do Produto Interno Bruto ou exerçam atividade internacional relevante.
Em fevereiro de 2018, o mesmo aconteceu para as instituições S2, sendo este segmento definido pelos bancos com exposição inferior a 10% e igual ou superior a 1% do PIB. A 4557 inovou, consolidando todos os pontos de diversas resoluções e normativos referente a gestão de riscos e cálculo de capital em um mesmo documento. No entanto, a mesma resolução também trouxe novos desafios e questionamentos para toda a indústria financeira.
1. O desafio da formação da equipe independente de Gestão Integrada de Riscos
O primeiro desafio proposto pela nova resolução é a construção/consolidação da equipe de gestão integrada de riscos com o suporte do CRO (Chief Risk Officer). Esta equipe precisa ser independente em relação às áreas de riscos e capital e ter empoderamento para exigir os relatórios de gestão de riscos e os valores da necessidade de capital dentro do prazo e com um padrão de qualidade. A primeira dúvida que pode surgir com relação a esse tema é em qual estrutura deveria estar a equipe: em uma área de um risco específico ou em uma área apartada. Caso seja alocada na área de risco, a equipe pode apresentar conflito de interesse e ter sua ação comprometida. Ao optar pela segunda opção, existe o desafio de encontrar resistência na criação de uma nova estrutura, visto que a grande maioria das instituições não estão preparadas para esse movimento.
O outro desafio é a integração com a equipe de capital, visto que eles devem atuar sempre alinhados para garantir materiais consistentes que vão ser apreciados no Comitê de Riscos e Capital e, em seguida, aprovados no Comitê de Administração.
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Mesmo que a gestão do risco de crédito sempre tenha sido uma função crítica dos bancos, uma melhor gestão do risco de crédito é essencial – e não apenas para fins de conformidade.
2. Atenção com a composição e atuação do comitê de Riscos e Capital
O segundo desafio proposto pela nova resolução tem relação com a composição e amadurecimento do comitê de Gestão de Riscos e Capital. Ela propõe que o CRO deve ser um membro do comitê, porém sem ter o poder de voto por conta de conflito de interesse, visto que seu trabalho será avaliado por esse grupo. Entretanto, o diretor de capital pode ser um membro votante e isto poderia gerar algum conflito, dado que o comitê também avalia a necessidade de capital que é resultado do trabalho do diretor da área.
A resolução não deixa claro qual é a melhor prática, porém é possível interpretar que ela sugere a presença do diretor de capital como um membro não votante.
Outro aspecto importante com relação a criação deste comitê é a consolidação do mesmo como peça fundamental no processo de tomada de decisão e monitoramento das áreas de capital e risco. Em algumas instituições, o comitê já está estabelecido e o seu valor é reconhecido para o processo. Entretanto, em outras a criação do comitê é vista como mais uma etapa burocrática que atrapalha o fluxo natural das decisões, principalmente em instituições menores.
3. Dúvidas na responsabilidade do processo de cálculo da necessidade de capital
Outro desafio com a nova resolução é referente ao processo de cálculo das parcelas de capital dos principais riscos, como crédito, mercado e operacional. A equipe de capital é responsável, dentre outras atividades, pelo cálculo do patrimônio de referência e pelo o índice de Basiléia. Este índice precisa das parcelas de capital dos riscos para consolidar a necessidade de capital – que é de responsabilidade da equipe de risco. Essa situação pode gerar dúvida com relação a qual área deveria ser responsável pelo cálculo das parcelas.
De maneira intuitiva, podemos dizer que as áreas de risco deveriam efetuar o cálculo das parcelas e enviar as informações para a área de capital. Entretanto, essa é uma situação que pode incomodar o diretor de capital, visto que ele seria apenas um consolidador dos números. Outra possibilidade seria colocar a área de capital como responsável pelo cálculo, contando com o apoio da área de risco como uma consultoria e fornecedora das metodologias e modelos de cálculo.
4. Relevância e desafios da realização do Teste de Estresse
E por fim, o teste de estresse é outro aspecto que também ganha relevância na nova resolução. Isso ocorre por conta do espaço que ele ocupa dentro do documento e pelo enorme desafio que pode ser realizar um teste integrado em todo o banco. Em grandes instituições, a integração de todas as áreas de risco é um cenário complexo e a resolução propõe que o CRO é a figura que vai facilitar o processo. A seção do teste de estresse está dentro de risco, mas permanece a dúvida - assim como observada na parte de cálculo das parcelas de capital – sobre qual área deveria ser a área responsável final por esse exercício.
Sabe-se que a equipe de gestão integrada de riscos deve ser responsável pela coordenação do teste, mas a mesma não tem estrutura ou capacitação técnica no tema para revisar com detalhe todos os aspectos do mesmo. A área de capital, por sua vez, tem o papel de consolidar os números e tem a expertise de projeção e cálculo dos indicadores de capital. Por isso, pode ser a área que naturalmente ficaria responsável por este assunto, apesar de na resolução a seção estar citada em risco.
Estes são os principais desafios de curto e médio prazo que são impostos pela nova resolução 4557. Entretanto, muitos outros aspectos que ainda não são vistos como importantes por diversas instituições serão extremamente desafiadores na adaptação às novas regras. Um bom exemplo é a Gestão dos Modelos. Como as empresas estão utilizando, cada vez mais, ferramentas de big data e analytics para tomar decisões, a gestão dos modelos e o monitoramento dos dados se tornam mais relevantes. E dentro deste assunto existem questões primárias, tais como a definição de um modelo, quantidade de modelos existentes no processo de tomada de decisão, o que seria o risco de modelo e qual o impacto de uma realização deste risco, que precisam ser levadas em consideração por quem tem expertise nessa prática.
Outro exemplo que não podemos deixar de nos atentar é questão da continuidade de negócios, que precisa ser centralizada e discutida em toda organização.
Para estes desafios, que vão logo começar a ganhar destaque no mercado, a construção de um processo formalizado e transparente é essencial. Para isso, o suporte de uma ferramenta robusta que permite orquestrar as atividades, visualizar o processo como um todo e ainda ser passível de auditoria, torna-se inevitável.
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