IFRS9 e stress tests:

a transição de uma 

abordagem histórica para

uma abordagem

virada para o futuro

09 / 26 /2016

IFRS9 e stress tests: a transição de uma abordagem histórica para uma abordagem virada para o futuro

A crise económica de 2008 teve um impacto considerável no mundo bancário e financeiro, e o setor atualmente está a sentir ainda os efeitos. A contração económica levou a uma maior exigência na legislação contabilística e de risco. As novas regras deverão garantir que as lições aprendidas durante a crise são aplicadas. Por exemplo, a crise tornou dolorosamente evidente que os amortecedores de capital eram insuficientes e as provisões para fazer face à crise chegaram demasiado tarde.  

A nova IFRS9 (International Financial Reporting Standard), que substitui a IAS39 (International Accounting Standard), deverá fornecer uma resposta eficaz para um melhor cálculo das provisões. Por sua vez, os stress tests deverão melhorar a estabilidade financeira do setor financeiro e permitir a sincronização do plano de negócio e estrutura de risco nos bancos.

Enquanto a IFRS9 é relativa a regras de contabilidade, os stress tests estão ligados à legislação de risco. Embora os dois regulamentos não estejam estritamente interligados, ambas as novas regras têm como objetivo implementar uma atitude virada para o futuro de forma a avaliar e melhorar as hipóteses de sobrevivência no caso de acontecimentos extremos.

IFRS9: solução para o "tarde e a más horas"

A IFRS9 entra em vigor a partir de 1 de janeiro de 2018. O novo regulamento retém o âmbito, requisitos de reconhecimento e desreconhecimento da IAS39, mas faz alterações às áreas de classificação e medição dos instrumentos financeiros, metodologia de imparidade e contabilidade de cobertura. A nova legislação contém três componentes principais:

1.     Classificação e medição: define que tip avaliação deverá ser utilizada para que itens da folha de balanço. Por outras palavras, quais são os seus planos para ativos específicos? Se um banco comprar uma obrigação, o banco pode ficar com a obrigação até à sua data de vencimento ou pode querer revende-la mais cedo. Consoante essa intenção de negócio, os ativos são classificados como custos amortizados ou justo valor.

2.     Imparidade: determina como são medidas e utilizadas as provisões em relação à perda de crédito. A IFRS9 introduz uma metodologia única de imparidade baseada na perda esperada que substitui a abordagem de perda incorridas.

3.     Contabilidade de cobertura: A IFRS9 redefine os requisitos que permitem a utilização da contabilidade de cobertura.

 A maior alteração da legislação diz respeito à imparidade. A atual IAS39 só regista a perda de um ativo financeiro após a ocorrência de um evento de perda. A crise financeira demonstrou que se as instituições financeiras esperarem até ao acontecimento do evento, será demasiado tarde para reagirem eficazmente. Na realidade, a demora na resposta causou a falência de bancos como o Lehman Brothers. “O reconhecimento da perda de crédito aconteceu demasiado tarde e as provisões disponíveis para enfrentar perdas de crédito eram demasiado pequenas. A nova legislação quer criar maior estabilidade através da utilização de um modelo de perda esperada para todos os instrumentos financeiros que estão sujeitos a imparidade. Os bancos têm que estar mais virados para o futuro, medindo riscos com base num conjunto de pressupostos macroeconómicos,” afirma Gino Coene, Líder de Indústria em Soluções de Gestão de Riscos na SAS.

“A posse de bons e maus ativos - maioritariamente empréstimos e obrigações - está a fazer com que evoluamos para uma abordagem tripartida,” continua Coene. “Primeiramente, temos as posições de crédito em que não ocorreram alterações significativas desde o estabelecimento da posição de crédito. Depois, temos os empréstimos e obrigações em que praticamente não houve alterações, ou alterações significativas, relativamente ao momento do estabelecimento da posição de crédito. Para os empréstimos e obrigações em que há um risco acrescido, as provisões têm que ser calculadas de uma forma diferente. Sem o risco acrescido, um banco tem em conta um período de 12 meses. Mas se existir um maior risco de perda de crédito, os bancos serão obrigados a analisar o tempo de vida completo da posição de crédito e registar a potencial perda de vida útil do crédito imediatamente. Esta situação tem um impacto direto e profundo no lucro do banco e conta de perdas e consequentemente no preço das suas ações.”

Com a IFRS9, assistimos à entrada de conceitos de risco na contabilidade.

Com a IFRS9, assistimos à entrada de conceitos de risco na contabilidade, explica Gino Coene: “A maioria dos Chief Financial Officers (CFOs) e Chief Risk Officers (CROs) move-se nos seus próprios domínios, com muito pouca interação. Esta situação irá mudar com o novo regulamento visto que a contabilidade terá que ter em conta cálculo de riscos de forma a utilizar as quantidades de crédito adequadas. Mas a maior mudança é que, atualmente, todas as medidas devem ser tomadas para eventos que podem acontecer no futuro.”

Stress tests em poucas palavras

O regulamento Basileia estipula a quantidade de amortecedores de capital que os bancos devem possuir, mas a crise económica tornou evidente que os amortecedores de capital eram insuficientes.  “Para um banco sobreviver a uma crise necessita não só de amortecedores de capital mas também de um portfólio de ativos líquidos de alta qualidade. Um banco pode recorrer a estas reservas de segurança para absorver perdas e sobreviver em tempos difíceis. Os stress tests mostram se um banco é capaz de avaliar os riscos e reagir adequadamente,” explica Gino Coene.

Mas para além de serem capazes de realizar stress tests internos - para avaliar os riscos de, por exemplo, um novo serviço - os bancos também têm que ser capazes de efetuar os testes externos obrigatórios. A Autoridade Bancária Europeia (EBA, na sigla inglesa), cujo papel é monitorizar e avaliar os desenvolvimentos dos mercados e identificar as tendências e potenciais riscos, utiliza stress tests como uma das principais ferramentas de supervisão para monitorizar a estabilidade do mercado financeiro.

No decurso dos últimos cinco anos, a EBA efetuou diversos stress tests por toda a UE, o mais recente em fevereiro de 2016. Os resultados foram publicados em julho deste ano. “Tal causa um enorme volume de trabalho para os bancos e, com a perspetiva dos stress tests se tornarem recorrentes, os bancos podem preparar-se adequadamente para este exercício através da utilização eficiente de aplicações analíticas,” comenta Coene.

Desafios chave

Existe uma interação clara entre o aprovisionamento de perda de crédito e os amortecedores de capital - entre financiamento e risco. Como tal, a IFRS9 e os stress tests partilham alguns desafios comuns.  

 

1.     Um ambiente de produção transparente: para o setor financeiro é um enorme desafio implementar soluções em Risco e Financiamento que forneçam informação transparente, auditável e repetível. Como tal, o ambiente deverá apoiar uma orquestração controlada de todos os processos envolvidos no fornecimento dos resultados calculados e na provisão de informação, quer interna quer externamente.

2.     Simular o potencial impacto: Os bancos têm que ser capazes de executar diferentes cenários e analisar o impacto num ambiente de testes. Uma boa forma de o fazer é criar um ambiente de simulação que permita a execução de modelos complexos e produza resultados rapidamente.

3.     Boa gestão de modelos: a previsão das potenciais perdas de crédito ou riscos para uma organização baseia-se em modelos de previsão que calculam diferentes cenários (macroeconómicos). “Mas atualmente, os bancos ainda não são um bom exemplo no que diz respeito à gestão de modelos.  Que modelos deverão ser aplicados a determinados produtos ou ativos? Caso um modelo tenha sido validado, qual o input e pressupostos que levaram à sua validação?  Os modelos de análise de dados devem ser avaliados e ajustados regularmente, especialmente agora que os bancos utilizam cada vez mais modelos. De forma a facilitar a gestão eficaz de modelos, todos os modelos deveriam ser desenvolvidos, validados e geridos num único ambiente que ofereça todas as ferramentas e caraterísticas necessárias à modelação” explica Coene.

4.     Um ambiente de dados gerido eficazmente: para os modelos de análise de dados funcionarem, necessitam de dados. Consequentemente, no cenário ideal, todos os dados seriam também armazenados num único ambiente. “Para os bancos, que recolhem enormes volumes de dados, este é um desafio monumental. Além disso, não se trata apenas de recolher dados, mas também de monitorizar a sua qualidade. Todos conhecem o ditado, "se entra lixo, sai lixo".”

Os bancos enfrentam vários desafios, mas no caso do futuro regulamento estão também numa corrida contra o tempo porque o prazo é apertado.  Os bancos têm assim um incentivo para procurar soluções rapidamente e enfrentar os quatro desafios  em simultâneo.  “Além disso, a IFRS9 e os stress tests aumentam a necessidade das instituições financeiras desenvolverem, aplicarem e gerirem modelos numa abordagem virada para o futuro, quer para o Risco que para o Financiamento. No SAS Fórum Portugal (www.sasforum.pt) vários oradores irão debruçar-se sobre este tópico.  Os Chief Data Officers aprenderão como gerir os seus dados corretamente, os CROs e CFOs irão beneficiar de perceções práticas sobre como passar de uma abordagem histórica para uma abordagem virada para o futuro, e os CIOs poderão obter conhecimentos sobre sistemas integrados com processos controlados,” conclui Gino Coene.

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